A reação romântica
Alfred North Whitehead
Quando abandonamos a
teologia apologética e nos dirigimos para a literatura, observamos, como era de
esperar, que a visão científica é em geral simplesmente ignorada. No que
respeita à generalidade da literatura, a ciência tem passado despercebida. Até
há pouco quase todos os escritores se embebiam na literatura clássica e
renascentista. Na maior parte nem a filosofia nem a ciência conseguiam
interessá-los; por outro lado, os seus espíritos encontravam-se predispostos para
as ignorar.
Há exceções, decerto, e,
mesmo confiando-nos à literatura inglesa, essas exceções incluem alguns dos
maiores nomes: além disso, a influência indireta da ciência foi considerável.
Encontra-se uma prova
disso ao examinar alguns dos grandes poemas da literatura inglesa, cujo nível
geral lhes dá um caráter didático. Os poemas que nos interessam neste caso são [Paraíso perdido], de Milton, o Ensaio sobre o homem, de Pope, a Excursão, de Wordsworth, In memoriam, de Tennyson. Milton, embora
escrevendo após a Restauração, defende a feição teológica dos primeiros tempos
do seu século, livre ainda da influência do materialismo científico. O poema de
Pope representa o efeito dos sessenta anos seguintes sobre o pensamento popular,
incluindo neles o primeiro período do triunfo do movimento científico.
Wordsworth exprime com todo o seu ser uma reação consciente contra a
mentalidade do século 18. Essa mentalidade significa nada mais que a aceitação
das idéias científicas em todo o seu valor. Wordsworth não era animado por
qualquer antagonismo intelectual; movia-o, sim, uma repulsão moral. Sentia que
qualquer coisa se havia perdido, e que fora precisamente o mais importante.
Tennyson é o expoente máximo das tentativas do decadente movimento romântico,
no segundo quartel do século 19, para chegar a um acordo com a ciência.
[...]
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