O começo da prática
Alain Manier & Françoise Dolto
[AM] Então, como você diz, foi a guerra que lhe deu a oportunidade de se
estabelecer como psicanalista?
[FD] De fato, foi a
guerra. No dia da declaração de guerra, 3 de setembro de 1939, além da minha prática
liberal eu tinha funções de interna em rodízio de substituição, isto é, eu
substituía os médicos dos Enfants-Malades que precisavam se ausentar. A maior
parte dos serviços que eu tinha freqüentado [estava] nos Enfants-Malades, que
era o único hospital para crianças; logo, eu estava o tempo todo nos Enfants
Malades, onde sempre almoçava, e toda a enfermagem me conhecia. E para
complementar meus ganhos, fazia substituições na enfermagem noturna. Como todos
os chefes de serviços e as enfermeiras me conheciam, aceitavam-me como se fosse
uma interna, porque eu tinha feito meu internato com eles. Como lhe disse, não
me apresentei no concurso porque não queria tomar o lugar de alguém, eu que não
desejava fazer parte daquela hierarquia, da qual fugia, e que achava
enlouquecedora para todo mundo. Não se era mais médico, era-se uma peça na
hierarquia. Eu julgava isso completamente idiota. Estava, realmente, acabado
para mim.
[...]
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