Aqui me encontrarás
Salette Tavares
Aqui me encontrarás
dormindo-me
silêncio
no fumo que os telhados
perfumam
de pinheiro,
aqui me encontrarás
e a
lua no meu ombro
vermelha do ardor
meu
sangue companheiro.
Eco que eu sou
na
morte de uma era
aninham os meus braços
outonos
de fulgores
e os pássaros da noite
em
seus olhos de espera
escutam o arfar
do
perfume das cores.
Aqui me encontrarás
floresta
de vermelho
segredos de vulcão
zumbindo-me
no peito
aqui me encontrarás
quente
fornalha de espelho
brasa amarela de vida
sol da
cor com que me enfeito.
Minha forma uma montanha
de
seios que a lua aquece
meus braços caminhos de água
por
toda a serra a descer
recorta-me a tarde morta
perfil
que o céu enlouquece
rumor remanso de frágua
brilho
lunar a correr.
Pata de frio entornada,
carreiro
meu sangue d’álbas
esplendor de muro húmido
em
leques de fetos verdes
langores de musgo veludo
em
sombra de plantas malvas
em ti me sei e me escuto,
em ti
me escorro e me bebo.
Aqui me encontrarás
tão de
longe navegada
afago de ares anjos
no
oceano de uma asa
nesta terra em que me
mostro
aqui de além coroada
sou água que a chuva traz
à sua
primeira casa.
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