Tarântula
Luís Murat
Dizem que é um veneno
estranho aquele
Que o aguilhão da
tarântula inocula:
Entra nas veias, rápido
circula,
Conspurca o sangue,
deteriora a pele.
Dizem também que o
espírito alucina
E faz a gente ter visões
e assombros,
E uma vontade de trazer
nos ombros
A algazarra do bosque e
da colina.
Dança-se em tomo de
árvores folhudas,
Colhem-se rosas, como
Ofélia, e, rindo,
Rindo, voluptuosamente,
ao Pindo
Sobe-se atrás das musas
rechonchudas.
Sonha-se cor de rosa e
branco... A lua
É como um nenúfar que
desabrocha,
Entre cirros, no cimo de
uma rocha
Enamorada, castamente
nua.
O coração flameja de tal
modo,
Como se fora o sol que
flamejasse,
E as madeixas de fogo
desmanchasse,
Serpenteando pelo corpo
todo...
Tinha vontade de sentir,
um dia,
Essa demência lúbrica e
esquisita,
Para beijar muita mulher
bonita,
Que a volúpia dos lábios
desafia.
E de seguir, depois, pela
existência,
Rouxinoleando, sem ter
ninho certo,
Tomando a cova por um céu
aberto,
Ou a velhice pela
adolescência.
E ver em cada rosa a
mesma rosa,
Tagarelando o idioma do
perfume,
E sentir da mulher a
misteriosa
Chama, que arde no amor e
no ciúme!...
E entrefechar o olhar,
lascivo e absorto
Na delicia de um gozo que
nos prende,
E cair n’um regaço, quase
morto,
Que é como um céu que um
anjo nos estende...
Ai! do prazer o insólito
desejo.
Que nos levanta, que nos
aniquila!
Que há que se possa
comparar a um beijo
D’essa divina e deliciosa
argila?!...
Como é bom revolver a
nuvem negra
Que encobre o templo da
felicidade,
E ouvir o coração – a
toutinegra
Do amor – cantar como na
mocidade!
Feliz quem pode
substituir os prantos
Por uma nova musica de
risos,
E acumular encantos sobre
encantos
E paraísos sobre
paraísos.
Tu, só tu, poderias, ser
corrupto,
Dar outro aspecto a esta
paisagem triste:
O teu veneno é o cobiçado
fruto,
Se é que o prazer só na
loucura existe.
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