Olhando o rio
Belmiro Braga
Nas noites claras de
luar, costumo
ir das águas ouvir o vão
lamento;
e, após o ouvi-las,
cauteloso e atento
que o rio também sofre,
eis que presumo.
Nesse que leva tortuoso
rumo,
que fado triste e por
demais cruento:
Vai deslizando agora doce
e lento
e agora desce
encachoeirado e a prumo.
O dorso aqui lhe encrespa
leve brisa,
ali o deslizar calhau lhe
veda;
além, de novo, sem
fragor, desliza...
És como o rio, coração
tristonho:
Se ele vive a chorar de
queda em queda,
vives tu a gemer de sonho
em sonho...
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