10 julho 2016

Terra das flores

Tomás Mamani Amorraga

Panqar Marka,
Terra de índios, grandes pensadores.
Em noite lúgubre ou em noite de lua
Brilhas, oh, como uma estrela!
Nosso mar, o Titicaca, é o teu espelho,
Nossa grande montanha, o lllimani, é o teu protetor,
Collasuyo, meu povo.

Panqar Marka, és a minha terra de flores
Entre a névoa e a noite escura,
Os pampas emaranhados e as ladeiras das montanhas,
Por onde corre a água, são minha existência.
Nas minhas penas e nas minhas alegrias
Tudo me queima.
Os animais choram muito,
Nas manhãs e nas tardes,
Olhando o horizonte.

Panqar Marka, Tawantinsuyo, Collasuyo,
Por que se calam?
Povo altivo como o condor dos Andes,
Por que olvidas teus deveres, tendo olhos?
Até quando não saberás escrever em tua língua
Aimara, para dizer as verdades?
Onde estás, neto de Julián Apasa, Tupac Katari?
Por que se seca a corrente de água?
Por que se perde tua prata, Bolívia?
Povo meu, até agora estás nas mãos alheias,
Por isso estou triste.

Panqar Marka, meu coração salta
Pensando nos meus terrenos e nos animais
Que se acabam, dia a dia.
Os poderosos nos fecham as portas.
Sozinho vou confessar-me, não se lembram de mim.
Ainda não se abrem as portas.
Para comercializar de terra em terra
Para que comamos bem
Muitos estão florescendo em Collasuyo.

Fonte (exceto três últimos versos): Freire, C. 2004. Babel de poemas: uma antologia multilíngüe. Porto Alegre, L&PM.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker