13 agosto 2016

Os reis da Alexandria

Constantine P. Cavafy

Reuniram-se os alexandrinos
para verem os filhos de Cleópatra:
Cesarião e seus irmãos mais jovens,
Alexandre e Ptolomeu, que
por vez primeira ao Ginásio levados
reis seriam proclamados,
em parada militar brilhante.

Alexandre foi proclamado rei
da Armênia, de Média e de Partia.
Ptolomeu foi proclamado rei
da Cecília, da Síria e de Fenícia.
Cesarião de pé, na frente deles,
vestido com seda cor-de-rosa,
um ramalhete de jacintos nos braços,
na cintura uma dupla fila de ametistas e safiras,
as sandálias atadas com brancas fitas,
com amarelas pétalas bordadas.
A ele coube o maior dos títulos:
proclamaram-no Rei dos Reis.

Os alexandrinos certamente compreenderam
que tudo aquilo eram palavras de faz-de-conta.

O dia estava quente, porém, e poético,
com céu de pálido azul.
O Ginásio de Alexandria era uma obra-prima.
As vestes dos cortesãos, esplêndidas,
Cesarião era todo charme e beleza
(filho de Cleópatra, sangue dos Lágidas).
Os alexandrinos, em multidões, ao festival acorreram
e entusiasmados saudavam em grego,
em egípcio, em hebraico alguns,
encantados com a beleza do espetáculo,
embora soubessem, naturalmente,
o que tudo aquilo valia,
eram aqueles reinos palavras vazias.

Fonte (exceto versos 3 e 4 da segunda estrofe): Freire, C. 2004. Babel de poemas: uma antologia multilíngüe. Porto Alegre, L&PM. Poema datado de 1912. O nome do autor é grafado também como ‘Konstantinos Kaváfis’.

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