30 julho 2016

Eterna

Mário Pederneiras

Intérmino que fosse o Caminho da Vida
E eterno o caminhar do nosso passo incerto,
Fosse na estrada larga ou fosse no deserto,
Sem lar, sem pão, sem paz, sem sol e sem guarida;

Intérmina que fosse a estrada percorrida
Sob o Céu todo azul ou de nuvens coberto
E, o repouso fatal nunca estivesse perto
E a distância final nunca fosse vencida;

E vencendo ao caminho as urzes e os escolhos,
As lutas, o pavor, o cansaço do dia, 
A fraqueza do passo, a tristeza dos olhos;

Meu pobre coração nessa eterna ansiedade,
Nesse eterno sofrer, eterno arrastaria
Esta triste, esta longa, esta eterna Saudade.

Fonte (última estrofe): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª edição. BH, Editora Bernardo Álvares. Poema publicado em livro em 1912.

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