Baldio
Nuno Júdice
No campo, os rebanhos
confundem-se com o verde
das pastagens, como se
fosse a erva a comê-los;
e o balido das cabras e o
som dos guizos, que
se misturam com o latido
dos cães, escondem
também eles a voz do
pastor, que nada diz acerca
do destino (supondo que
um rebanho tem destino).
No campo, ninguém vê para
onde vão esses rebanhos
quando, à tarde,
atravessam a estrada e obrigam
os carros a parar. Por
vezes, um condutor insiste
em abrir caminho através
das peles e dos chifres; mas
os cães metem-se à frente
do carro, como se ele
fizesse parte do rebanho,
e forçam-no a desviar-se.
Há regras a seguir neste
mundo, que a natureza
humana não consegue
alterar. É como se campo
e animais formassem um só
corpo; como se
nenhum de nós conseguisse
entrar nesse
obscuro mundo de leis e
direções invisíveis. E até
o pastor, em silêncio,
parece guiado pelos deuses.
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