Recém-casado
Lélia Coelho Frota
É pelos corpos que nos
perderemos
de nós mesmos, para nos
ganharmos.
É pelos beijos que nos
despedimos
para nos encontrarmos
pelos olhos.
É pela pele que
escaldamos
o que em nós havia de
secreto:
e é o nosso corpo
entregue um corpo estranho
pois pertence só a quem
amamos
por quem morosamente
devassamos
o alheamento da carne –
o barqueiro, o pastor que
a atravessa
num profundo arremesso vagaroso
levantando ondas, ondas,
ondas e ervas
a subir e descer vagas e
montes
levando-me com ele à raia
clara
onde água a quebrar-se eu
me constele
na sua barca, conduzida à
praia.
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