13 novembro 2016

Recém-casado

Lélia Coelho Frota

É pelos corpos que nos perderemos
de nós mesmos, para nos ganharmos.
É pelos beijos que nos despedimos
para nos encontrarmos pelos olhos.
É pela pele que escaldamos
o que em nós havia de secreto:
e é o nosso corpo entregue um corpo estranho
pois pertence só a quem amamos
por quem morosamente devassamos
o alheamento da carne –
o barqueiro, o pastor que a atravessa
num profundo arremesso vagaroso
levantando ondas, ondas, ondas e ervas
a subir e descer vagas e montes
levando-me com ele à raia clara
onde água a quebrar-se eu me constele
na sua barca, conduzida à praia.

Fonte (versos 1-4): Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema publicado em livro em 1978.

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