A crença
Jean Lacroix
Das análises precedentes
resulta que o que se denomina, desde Kant, a teoria do conhecimento deveria tornar-se mais exatamente uma teoria da crença. O problema essencial
do personalismo, o teste pelo qual se pode e se deve julgá-lo é o da natureza e
valor da crença. O que eu não sei, costumava repetir Goblot, eu o ignoro. E por
saber compreendia ele unicamente o conhecimento científico: tudo o que não é
ciência é não saber, não conhecimento. Somente a razão é racional, somente a
inteligência é inteligente, a condição para a certeza é defender-se contra a
parcialidade do sentimento e a arbitrariedade da vontade. A crença pode, pois,
ser boa, isto é, útil, pois a ciência
é imperfeita e as ações da vida não sofrem retardamento; mas ela não poderia
ser verdadeira. Portanto, deve-se recusar-lhe todo valor de conhecimento. Ela é
puramente subjetiva e a insinceridade intelectual consiste exatamente em tomar
como conhecimento o que não o é. “Na noção de crença há qualquer coisa de
equívoco: a crença é aquilo que, sem ser um ato de conhecimento, pretende
fazer-se passar por tal”. Admite-se que o racionalismo possa ser desdobrado de
fato em uma espécie de fideísmo, mas com a condição de que seus domínios
permaneçam inteiramente separados, que o primeiro comande do juízo e o segundo
a prática: é preciso saber que se crê e não crer que se sabe. O essencial, na ordem
do conhecimento, é rejeitar implacavelmente tudo que não for certo: toda
vontade de crer deve se transformar em vontade de duvidar.
[...]
Fonte: Lacroix, J. 1972
[1962]. Marxismo, existencialismo,
personalismo. RJ, Paz e Terra.
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