20 fevereiro 2017

Ego e ideologia

Erik Erikson

O fenômeno tem aspectos evolutivos bem como históricos. Eu colocaria do seguinte modo: O homem se tornou dividido em pseudoespécies e, na presente era, tenta superar uma das últimas formas desse fenômeno, que é o nacionalismo. O animal tribal está na defensiva, justamente porque ideologias mais inclusivas estão sendo formuladas. Mas, como formar uma identidade mais ampla – este torna-se agora o problema da juventude. Na minha opinião, o adolescente é dirigido e frequentemente perturbado por uma nova pressão quantitativa de impulsos conflitantes. Assim, o aspecto ontogenético da adolescência é realmente representativo daquilo que a força do ego de cada indivíduo precisa tentar resolver num único momento, a saber, o desgoverno interno e as condições mutáveis. Uma pessoa cujas potencialidades como pessoa não podem ser atualizadas nas tendências históricas do seu tempo, simplesmente, fica mais desnorteada a respeito do que a impulsiona amorfamente, mas inclinada a regredir e, desse modo, também mais importunada por remanescentes infantis na sua sexualidade. Você pode ver, em qualquer jovem, que ele pode exercer a sexualidade sem dificuldades, pode se expor a crises e absorver alguns equívocos graves. Assim, a identidade tem essa importância no desenvolvimento. Mas, depois, ela tem também o seu lado social, que é o que a torna psicossocial. Como base no desenvolvimento cognitivo, a pessoa jovem está procurando uma estrutura ideológica com a qual enfrentará um futuro de vastas possibilidades. É muito importante ver que ideologias, por definição, não podem ser constituídas de valores maduros. Os adolescentes são facilmente seduzidos por regimes totalitários e todas essas tendências que oferecem alguns valores transitórios falsos. Enquanto a adolescência é vulnerável a ideias falsas, ela pode colocar uma grande energia e lealdade à disposição de qualquer sistema convincente. Isto é o que a torna tão trágica e dá a todos os criadores de novos valores tamanha responsabilidade. Nós, no Ocidente, pensamos que queremos só defender um estilo de vida, enquanto, de fato, estamos também criando e exportando ideologias tecnológicas e científicas, que têm seus próprios caminhos para reforçar o conformismo. Estas são duas grandes fontes de identidade contemporânea e de confusão de identidade: a crença na tecnologia e a reafirmação de uma espécie de humanismo. Ambas podem ser obsoletas, na sua utopia, inadequadas ao esforço gigantesco do homem para controlar os seus próprios poderes.

Fonte: Evans, R. I. 1979 [1976]. Construtores da psicologia. SP, Summus & Edusp.

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