03 março 2017

Mimetismo mülleriano

Felipe A. P. L. Costa

Dizemos que há mimetismo visual quando os integrantes de duas (ou mais) espécies são tão semelhantes entre si que um predador já não consegue distingui-los. Note que o mimetismo dificulta o reconhecimento, não a detecção. Além disso, diferentemente do que caracteriza a camuflagem, os envolvidos aqui interagem, decorrendo daí benefícios, quer apenas para o mímico (mimetismo batesiano), quer para ambas as espécies (mimetismo mülleriano). Os termos batesiano e mülleriano são uma alusão a Henry Walter Bates (1825-1892) e ao naturalista de origem alemã Fritz [Johann Friedrich Theodor] Müller (1821-1897).
[...]

De origem alemã, Fritz Müller chegou ao país em 1852, indo morar na região de Blumenau (SC). Manteve contato com vários naturalistas, incluindo Darwin, o qual passaria a se referir a ele como o ‘príncipe dos observadores’. Müller (1879) formulou uma explicação inovadora para uma questão não tratada por Bates: por que duas ou mais presas aposemáticas e impalatáveis convergem para um padrão corpóreo semelhante?

Segundo Müller (1879, p. xxvii; tradução livre):

Sejam a1 e a2 os números de duas espécies de borboletas impalatáveis em certo distrito durante o verão e seja n o número de indivíduos de uma espécie particular que são destruídos no transcorrer do verão antes que a sua impalatabilidade seja de conhecimento geral.

Se as duas espécies são totalmente diferentes, então cada uma perde n indivíduos. Porém, se elas são indistintamente semelhantes, então a primeira perde a1n / (a1 + a2) e a segunda a2n / (a1 + a2).

O ganho absoluto devido à semelhança é, portanto, de n – a1n / (a1 + a2) = a2n / (a1 + a2) para a primeira espécie; e, de modo semelhante, de a1n / (a1 + a2) para a segunda.

Este ganho absoluto, em comparação à ocorrência das espécies, dá I1 = a2n / a1(a1+a2) para a primeira e I2 = a1n / a2(a1+a2) para a segunda, de onde segue a proporção I1:I2 = a22:a12.

No âmbito da teoria evolutiva, o modelo de Müller foi o primeiro a fazer uso de argumentos matemáticos, uma ‘tradição’ que se mantém (e.g., Benson 1977; Ferreira & Marcon 2014). O fenômeno descrito ganharia o nome de mimetismo mülleriano, em contraposição ao batesiano. [...]

Fonte: Costa, F. A. P. L. 2017. O evolucionista voador & outros inventores da biologia moderna. Viçosa, Edição do autor. (Lançamento agora em março. Para entrar em contato com o autor e/ou adquirir exemplares, escreva para meiterer@hotmail.com.) Mais sobre mimetismo aqui.

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