Elegia para uma gaivota
Sebastião da Gama
Morreu no Mar a gaivota
mais esbelta,
a que morava mais alto e
trespassava
de claridade as nuvens
mais escuras com os olhos.
Flutuam quietas, sobre as
águas, suas asas.
Água salgada, benta de
tantas mortes angustiosas, aspergiu-a.
E três pás de ar pesado
para sempre as viagens lhe vedaram.
Eis que deixou de ser
sonho apenas sonhado.
–: É finalmente sonho
puro,
sonho que sonha finalmente,
asa que dorme voos.
Cantos dos pescadores,
embalai-a!
Versos dos poetas,
embalai-a!
Brisas, peixes, marés,
rumor das velas, embalai-a!
Há na manhã um gosto vago
e doce de elegia,
tão misteriosamente, tão
insistentemente,
sua presença morta em
tudo se anuncia.
Ela vai, sereninha e
muito branca.
E a sua morte simples e
suavíssima
é a ordem-do-dia na praia
e no mar alto.
Fonte: Silva, A. C. &
Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em
livro em 1951.
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