Revisores que enrolam, editores que empacam
Felipe A. P. L. Costa
Escrever e reescrever várias
vezes o mesmo manuscrito ofusca a visão do autor. Imprecisões, descuidos ou
pequenos erros de linguagem, por exemplo, vão aos poucos se tornando invisíveis.
Quem lê um texto pela primeira vez ainda não está ‘hipnotizado’, podendo assim perceber
os problemas com maior facilidade do que quem ficou debruçado sobre ele durante
vários dias.
Sempre que possível, portanto,
é aconselhável expor versões preliminares do que se escreve a um ou outro
colega, ouvindo e recolhendo os comentários e as sugestões. Leitores mais especializados
(i.e., colegas que comumente leem ou escrevem artigos sobre o mesmo assunto ou
sobre assuntos afins) poderão depois, quem sabe, detectar erros e mal-entendidos
mais graves, propondo então mudanças adicionais mais substantivas.
Concluída a fase de
redação, e tendo enviado a versão final para o editor-chefe de algum periódico (respeitável,
presume-se), caberia ao autor perguntar: “Quanto tempo eu terei de esperar até
que o manuscrito seja publicado como artigo científico?” – isto, claro, imaginando
que o mesmo não seja prontamente recusado.
O tamanho da fila
A rigor, boa parte do tempo de espera depende do tamanho da fila; este, por sua vez, reflete o número de manuscritos que, enviados antes do nosso, já foram aceitos e agora estão apenas aguardando o momento de ir para a gráfica (ou para o ciberespaço, como hoje é regra). Filas extensas não são de todo ruins, pois podem indicar que a revista está sendo muito procurada, em função, talvez, de uma conjuntura favorável ou do bom conceito que ela usufrui na comunidade científica.
Antes do surgimento e
popularização das revistas eletrônicas, o autor brasileiro esperava em média cerca
de um ano (às vezes mais) até ver o seu manuscrito publicado como artigo. Esse
intervalo incluía o que era gasto pelo editor até encontrar os revisores que
fariam a leitura (supostamente crítica e minuciosa) do manuscrito. Na maior
parte do tempo, porém, os manuscritos permaneciam em poder dos próprios
revisores. Eis, então, o xis da questão: quanto tempo o revisor deveria dispor
para fazer uma análise crítica e minunciosa?
Revisores bons e experientes talvez demorem a enviar seu parecer por excesso de trabalho e, nesse caso, caberia ao periódico aumentar o quadro de revisores. Por si só, no entanto, essa medida não resolveria todos os problemas – e.g., alguns manuscritos enfrentam longos e desnecessários períodos de espera simplesmente porque os revisores foram pegos de surpresa e não sabem bem o que fazer.
Revisores bons e experientes talvez demorem a enviar seu parecer por excesso de trabalho e, nesse caso, caberia ao periódico aumentar o quadro de revisores. Por si só, no entanto, essa medida não resolveria todos os problemas – e.g., alguns manuscritos enfrentam longos e desnecessários períodos de espera simplesmente porque os revisores foram pegos de surpresa e não sabem bem o que fazer.
Contornar a inação de
revisores que enrolam pode ser uma situação particularmente melindrosa para os
editores. Em todo caso, trata-se de um problema que precisa ser encarado de
frente, sob pena de os editores empacarem ainda mais o processo. Da parte dos
revisores, bastaria devolver prontamente os manuscritos sobre os quais eles não
se julgam em condições de avaliar e emitir um parecer. Pode ser difícil para
egos inflados, mas seria uma clara e oportuna demonstração de integridade profissional.
A adoção de expedientes
mais criteriosos, combinada com o aumento no quadro de revisores, poderia, quem
sabe, não só encurtar o tempo de espera dos manuscritos que serão de fato
publicados, mas, sobretudo, elevar o nível de qualidade dos artigos que aparecem
em nossas (cada vez mais numerosas) revistas científicas.
Fonte: versão original publicada
no Jornal da Ciência, em 30/1/1998.
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home