Sistemas agrários
Ademar Ribeiro Romeiro
A passagem da produção
agrícola baseada em sistemas de cultura itinerante
para uma produção baseada em sistemas de
cultura permanente na Europa do Norte foi objeto de vivas controvérsias.
Uma das mais importantes opunha, de um lado, aqueles que viam a expansão
demográfica como a variável independente na evolução dos sistemas agrários; de
outro lado, aqueles para os quais a força motriz principal do processo de
mudança era a introdução do progresso técnico, independentemente da expansão
demográfica.
Os partidários da
primeira corrente partem do que consideram um fato: a produtividade tanto da
terra quanto do trabalho nos sistemas de cultura itinerante era superior àquela
obtida com os sistemas de cultura permanente que lhes sucedem. Tratar-se-ia,
portanto, da passagem paradoxal de um sistema superior para um sistema inferior.
Efetivamente, a pressão demográfica parece ser a única força capaz de obrigar
os agricultores a trabalhar mais para obter menos. Segundo Boserup (1970), a
pressão demográfica obriga os agricultores a trabalhar cada vez mais porque esta
é a única maneira de aumentar a produção quando não há outros recursos que
aqueles disponíveis no espaço agrário. Somente a partir da revolução
industrial, quando a indústria passa a fornecer à agricultura fontes exógenas de
energia e outros insumos, é que se torna possível aumentar simultaneamente o
rendimento da terra e a produtividade do trabalho agrícola.
A segunda corrente abriga
autores para os quais a evolução dos sistemas agrários até a revolução
industrial não foi, como supõe Boserup (1970), uma sucessão de sistemas com
produtividade do trabalho decrescente. Para autores neomalthusianos, como Grigg
(1974), os sistemas agrários evoluem devido à introdução autônoma de inovações
tecnológicas, um processo que seria inerente à curiosidade e capacidade
inventiva do homem. Essas inovações, por sua vez, elevam a produção de
alimentos per capita, o que tenderia
a acelerar o crescimento demográfico. Assim a pressão demográfica seria o
resultado e não a causa da evolução dos sistemas agrários.
[...]
Fonte: Romeiro, A. R. 1998.
Meio ambiente e dinâmica de inovações na
agricultura. SP, Annablume & Fapesp.
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