06 novembro 2017

Josaphat

Da Costa e Silva

A trombeta fatal os meus ouvidos chumba.
Sol Poente. Eu moribundo. Entra o cortejo roxo
Da Morte. O Padre meu irmão parece um mocho...
Rezas, viático, a Cruz – passaportes da Tumba.

Choro de minha mãe – arrulhos de columba
Meus olhos a ninar... Fecho-os ao claror frouxo
Do círio bento e vejo, aos pulos, Satã Coxo,
Em roda do meu leito, à espera que eu sucumba.

Deixa o corpo a alma e desce em espirais de tênia
Aos círculos do Inferno, à maneira de um dobre
De sinos, aos giros no ar... Dante faz-me uma nênia,

Voltaire, a assobiar, traça-me o necrológio,
Rezam juntos por mim num profano Eucológio.

Fonte: Horta, A. B. 2007. Criadores de mantras. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1908.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker