10 março 2018

O embaraço da abundância

Jonathan Howard

Os biógrafos de Darwin são confrontados com o embaraço da abundância. Os seus progenitores eram ambos filhos de famílias distintas que tinham suscitado honras biográficas por direito próprio. Darwin casou depois com uma prima-irmã, e parece que a família nunca mais deitou fora praticamente nada desde então. Darwin registrou a sua própria vida numa autobiografia escrita a título particular para a família, mas que foi naturalmente guardada e depois publicada. As notas e registros do trabalho científico de uma vida inteira foram mantidos virtualmente intactos. Darwin viveu somente em três locais ao longo de uma carreira científica que durou cinquenta anos; cinco anos a bordo do Beagle, em circum-navegação pelo mundo, quatro anos em Londres e os restantes em Down House, algumas milhas ao sul de Londres. [...]

Enfermo durante os últimos quarenta e cinco anos de sua vida, Darwin foi autor de uma correspondência enorme. Foram editados cinco volumes das suas cartas por seu filho Francis, e apareceram depois, esporadicamente, mais algumas. Está em projecto uma edição definitiva de mais 13 000 cartas. Muitos dos correspondentes de Darwin eram cientistas muito distintos. [...]

Mesmo que Darwin tivesse sido um personagem menos importante uma colecção tão magnífica de fontes biográficas ter-lhe-ia mesmo assim garantido um lugar na história da ciência do século xix. Sendo o que é, existe um registro documental completo quase inacreditável da vida de um dos grandes revolucionários da história das ideias. Não admira pois que a exploração deste registro e as suas implicações para a história da ciência se tenha transformado naquilo que é por vezes designado como a Indústria de Darwin.
[...]

Fonte: Howard, J. 1982. Darwin. Lisboa, Dom Quixote.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker