O embaraço da abundância
Jonathan Howard
Os biógrafos de Darwin são confrontados com o embaraço da abundância. Os
seus progenitores eram ambos filhos de famílias distintas que tinham suscitado
honras biográficas por direito próprio. Darwin casou depois com uma prima-irmã,
e parece que a família nunca mais deitou fora praticamente nada desde então. Darwin
registrou a sua própria vida numa autobiografia escrita a título particular
para a família, mas que foi naturalmente guardada e depois publicada. As notas
e registros do trabalho científico de uma vida inteira foram mantidos
virtualmente intactos. Darwin viveu somente em três locais ao longo de uma
carreira científica que durou cinquenta anos; cinco anos a bordo do Beagle, em circum-navegação pelo mundo,
quatro anos em Londres e os restantes em Down House, algumas milhas ao sul de
Londres. [...]
Enfermo durante os últimos quarenta e cinco anos de sua vida, Darwin foi
autor de uma correspondência enorme. Foram editados cinco volumes das suas
cartas por seu filho Francis, e apareceram depois, esporadicamente, mais
algumas. Está em projecto uma edição definitiva de mais 13 000 cartas. Muitos
dos correspondentes de Darwin eram cientistas muito distintos. [...]
Mesmo que Darwin tivesse sido um personagem menos importante uma colecção
tão magnífica de fontes biográficas ter-lhe-ia mesmo assim garantido um lugar
na história da ciência do século xix.
Sendo o que é, existe um registro documental completo quase inacreditável da
vida de um dos grandes revolucionários da história das ideias. Não admira pois
que a exploração deste registro e as suas implicações para a história da
ciência se tenha transformado naquilo que é por vezes designado como a Indústria
de Darwin.
[...]
Fonte: Howard, J. 1982. Darwin.
Lisboa, Dom Quixote.
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