O esporte no Binômio
Hélio Fraga
De repente, o país do futebol levou um susto: Didi, o segundo maior
jogador brasileiro em prestígio e fama, logo abaixo de Pelé, tinha um filho
oculto, que era engraxate em Pedro Leopoldo, perto de Belo Horizonte. Adilson Pereira,
11 anos, filho legítimo de Didi e de sua primeira mulher, Maria Luíza, era
criado pelo então treinador Moacir Rodrigues.
A descoberta do filho de Didi foi um furo nacional do Binômio, de minha autoria, então me iniciando
no jornalismo, e do repórter fotográfico Antônio Cocenza. A notícia teve
repercussão mundial, foi manchete de grandes jornais brasileiros e acabou
abrindo as portas do sucesso para Adilson – mais tarde, o Bibi – titular do Atlético mineiro e de outros grandes times.
Na época, Didi vivia um tempestuoso romance com Guiomar, sua segunda
esposa, e tinha abandonado o filho, cujo paradeiro era inteiramente
desconhecido.
Com a informação de que Adilson estava em Pedro Leopoldo, fomos até lá e
fizemos um teste: num campo de futebol, colocamos um menino no gol e outros na
barreira. Pedimos então ao garoto que batesse uma falta. Ele ajeitou, tomou
distância e chutou. A bola descreveu uma trajetória igual à das faltas batidas
por Didi, a famosa folha seca, que
Adilson só conhecia de nome. Não havia mais dúvidas.
Foi assim, com grandes reportagens e furos como este, que o Binômio ajudou a escrever a história do
futebol mineiro num de seus momentos mais importantes (a fase pré-Mineirão). A
crônica esportiva, naqueles dias, era dominada pela mediocridade, pelos repórteres-torcedores,
por aqueles que, mais do que hoje, não se envergonhavam de misturar sua
condição de jornalistas com os serviços prestados aos clubes, como até
contratar jogadores.
O Binômio teve um papel
fundamental na modernização da linguagem jornalística esportiva em Minas,
arquivando palavras como prélio, pugna, coach
(técnico), match (jogo), referee (juiz), goal keeper (goleiro), tento (gol), mediador da cotenda (juiz), equipes
litigantes (times), e por aí vai.
Outro papel importante do jornal: humanizar o futebol, mostrar o jogador
como uma pessoa igual às outras, não tratá-lo como mercadoria que se vendia a
qualquer hora. Essa humanização se estendeu a todo o universo do futebol: aos
juízes, aos treinadores, aos dirigentes, aos torcedores.
O Binômio ajudou na descoberta
de grandes jogadores. Apenas um, entre eles: Tostão, o rei das peladas de
futebol de salão no Conjunto do IAPI, cujos primeiros passos acompanhamos no
jornal. Ou na revelação do drama de craques do passado, como Mário de Souza, um
dos maiores goleadores da história do Atlético e que vivia na miséria na cidade
de João Monlevade.
Tivemos ainda um papel decisivo na denúncia das mazelas que afetavam o
esporte, levando-o ao desprestígio e à desmoralização, como infelizmente
acontece ainda hoje.
Todos os fatos marcantes do futebol de Minas e do Brasil, naquele
período, passaram pelas páginas do Binômio,
vistos com toda a honestidade e independência, que eram as marcas do jornal.
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