02 março 2018

O esporte no Binômio

Hélio Fraga

De repente, o país do futebol levou um susto: Didi, o segundo maior jogador brasileiro em prestígio e fama, logo abaixo de Pelé, tinha um filho oculto, que era engraxate em Pedro Leopoldo, perto de Belo Horizonte. Adilson Pereira, 11 anos, filho legítimo de Didi e de sua primeira mulher, Maria Luíza, era criado pelo então treinador Moacir Rodrigues.

A descoberta do filho de Didi foi um furo nacional do Binômio, de minha autoria, então me iniciando no jornalismo, e do repórter fotográfico Antônio Cocenza. A notícia teve repercussão mundial, foi manchete de grandes jornais brasileiros e acabou abrindo as portas do sucesso para Adilson – mais tarde, o Bibi – titular do Atlético mineiro e de outros grandes times.

Na época, Didi vivia um tempestuoso romance com Guiomar, sua segunda esposa, e tinha abandonado o filho, cujo paradeiro era inteiramente desconhecido.

Com a informação de que Adilson estava em Pedro Leopoldo, fomos até lá e fizemos um teste: num campo de futebol, colocamos um menino no gol e outros na barreira. Pedimos então ao garoto que batesse uma falta. Ele ajeitou, tomou distância e chutou. A bola descreveu uma trajetória igual à das faltas batidas por Didi, a famosa folha seca, que Adilson só conhecia de nome. Não havia mais dúvidas.

Foi assim, com grandes reportagens e furos como este, que o Binômio ajudou a escrever a história do futebol mineiro num de seus momentos mais importantes (a fase pré-Mineirão). A crônica esportiva, naqueles dias, era dominada pela mediocridade, pelos repórteres-torcedores, por aqueles que, mais do que hoje, não se envergonhavam de misturar sua condição de jornalistas com os serviços prestados aos clubes, como até contratar jogadores.

O Binômio teve um papel fundamental na modernização da linguagem jornalística esportiva em Minas, arquivando palavras como prélio, pugna, coach (técnico), match (jogo), referee (juiz), goal keeper (goleiro), tento (gol), mediador da cotenda (juiz), equipes litigantes (times), e por aí vai.

Outro papel importante do jornal: humanizar o futebol, mostrar o jogador como uma pessoa igual às outras, não tratá-lo como mercadoria que se vendia a qualquer hora. Essa humanização se estendeu a todo o universo do futebol: aos juízes, aos treinadores, aos dirigentes, aos torcedores.

O Binômio ajudou na descoberta de grandes jogadores. Apenas um, entre eles: Tostão, o rei das peladas de futebol de salão no Conjunto do IAPI, cujos primeiros passos acompanhamos no jornal. Ou na revelação do drama de craques do passado, como Mário de Souza, um dos maiores goleadores da história do Atlético e que vivia na miséria na cidade de João Monlevade.

Tivemos ainda um papel decisivo na denúncia das mazelas que afetavam o esporte, levando-o ao desprestígio e à desmoralização, como infelizmente acontece ainda hoje.

Todos os fatos marcantes do futebol de Minas e do Brasil, naquele período, passaram pelas páginas do Binômio, vistos com toda a honestidade e independência, que eram as marcas do jornal.

Fonte: Rabêlo, J. M. 1997. Binômio:edição histórica. BH, Armazém de Idéias & Barlavento Grupo Editorial.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker