23 maio 2018

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Viriato Gaspar

(A Ferreira Gullar)

O homem é a matéria do meu canto,
qualquer que seja a cor do que ele sente.
E não importa o motivo do seu pranto,
é um homem, meu irmão, e estou doente

de sua dor, e é meu o seu espanto
do mundo e desta hora incongruentes.
Na trincheira do Verbo me levanto
contra o que contra o homem se intente.

O homem é o objeto e o objetivo
de quanto sei cantar, e o canto é tudo
que pode me explicar porque estou vivo.

Às vezes sou ateu, noutras sou crente,
em outras sou rebelde, em algumas mudo:
– sou homem, e canto o homem no presente.

Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1984.

1 Comentários:

Blogger Alzira Paiva disse...

Lindo poema

10/6/18 21:04  

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