Hiroshima
John Hersey
Quase à meia noite, na noite anterior ao lançamento da bomba, um locutor
de uma estação de rádio da cidade dizia que cerca de duzentos B-29 estavam se
aproximando ao sul de Honshu, e aconselhava à população de Hiroshima que se
recolhesse a suas ‘áreas de segurança’. A sra. Hatsuyo Nakamura, a viúva do
alfaiate, que vivia no bairro chamado Nobori-cho, e que há muito tinha o hábito
de fazer o que lhe mandavam, tirou da cama seus três filhos – um menino de dez
anos, Toshio, uma menina de oito anos, Yaeko, e uma menina de cinco anos, Myeko
–, vestiu-os e dirigiu-se com eles para a área militar conhecida como Campo do
Nascente, localizada no limite norte da cidade. Lá desenrolou algumas esteiras,
sobre as quais as crianças se deitaram. Dormiram até cerca de duas horas,
quando foram despertadas pelo ronco dos aviões que sobrevoavam Hiroshima.
Assim que os aviões acabaram de passar, a sra. Nakamura voltou com as
crianças para casa. Chegaram em casa um pouco depois das duas e trinta, e ela imediatamente
ligou o rádio, que, para sua tristeza, estava começando a divulgar um novo
aviso. Quando olhou para as crianças, e as viu tão cansadas, e quando se
lembrou do número de viagens que haviam feito nas últimas semanas, todas sem
propósito, ao Campo do Nascente, decidiu que, apesar das instruções dadas pelo
rádio, simplesmente não poderia começar tudo outra vez. Colocou as crianças nas
esteiras, sobre o assoalho, e deitou-se também, às três horas, dormindo logo em
seguida, e tão pesadamente que não acordou quando os aviões passaram novamente
mais tarde.
[...]
Fonte: Wallace, B. 1979 [1972]. Biologia social, v. 2. SP, EPU & Edusp. Trecho de livro publicado originalmente
em 1946.
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