09 julho 2018

Menos crachás, mais argumentos


Juízes não são apenas bonecos animados manipulados por forças contrárias à soberania popular. O comportamento de muitos deles é, antes de tudo, a expressão máxima de um caldo cultural dos mais rarefeitos: adoramos confeitos, medalhas e adjetivos, mas desconhecemos os substantivos e os verbos impessoais. Nas escolas e universidades, não aprendemos a argumentar. Palpitamos e chutamos. Às vezes, esbravejamos. Tal qual crianças, desconhecemos como o mundo funciona. Há quem ache isso o máximo. Afinal, vivemos em um paraíso tropical. Louvamos o jeitinho e as gambiarras, louvamos a ignorância. Não é de estranhar que tanta coisa funcione mal em nossa sociedade – e.g., de salva-vidas e bombeiros que não trabalham à noite a professores iletrados e médicos que desconhecem fisiologia. (Para não citar os advogados, uma categoria profissional repleta de gaiatos semianalfabetos.)

Quarenta anos atrás, Luiz Inácio Lula da Silva foi adotado como o ponto de confluência de algumas correntes políticas existentes no país. Além dos companheiros habituais de movimento sindical, ele passou a conviver com um amplo leque de gente, incluindo políticos e intelectuais. Anos e anos de convivência deram no que temos hoje: um cidadão do mundo, um sujeito que sabe conversar de igual para igual com qualquer outro chefe de estado ou de governo. A biografia de Dilma Rousseff me parece mais interessante (e bem mais impressionante), mas o fato é que o país nunca teve alguém como Lula na presidência. (As comparações com Getúlio Vargas e JK sempre me pareceram erros grosseiros. Para não mencionar as comparações com FHC, um sujeito que pouco ou nada fez ao longo de sua vida acadêmica e política além de ficar sentado diante do espelho.)

Precisamos nos armar, sobretudo de argumentos.

Precisamos enxotar os adjetivos, sobretudo os mais raivosos.

No plano mais imediato, precisamos desvendar um mistério: Quantos anos de experiência eleitoral ainda serão necessários até que o eleitorado brasileiro entenda a expressão ‘Patrão vota em patrão, trabalhador vota em trabalhador’?

Em termos mais amplos e duradouros, eu diria que a fórmula que faz falta é: Menos adjetivos, menos crachás; mais substantivos, mais argumentos.

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