A taxa de crescimento no número de casos está em 0,5%, enquanto a de mortes está perto de 1%
Felipe A. P. L. Costa [*].
RESUMO. – Este artigo atualiza as médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) divulgadas em artigo anterior (aqui). Entre 29/3 e 4/4, as médias ficaram em 0,5% (casos) e 0,86% (mortes). Em relação à semana anterior, a taxa de casos declinou, enquanto a de mortes permaneceu estacionária. Foi a primeira vez em seis semanas que a taxa de mortes não escalou. Mas este resultado pode ser enganoso, visto que a metodologia de coleta e processamento de dados é sensível a semanas com feriados, como foi o caso da semana passada.
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No domingo (4/4), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 31.359 casos e 1.240 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 12.953.597 casos e 330.193 mortes [1].
Em números absolutos, as estatísticas registradas na semana passada (29/3-4/4) mostraram tendências distintas em relação aos números da semana anterior.
Foram registrados 450.268 novos casos – o menor valor em cinco semanas. Ainda assim, foi a 18ª semana com mais de 300 mil novos casos (13 dessas semanas foram registradas em 2021).
Desgraçadamente, porém, atingimos um novo patamar no número de mortes: 19.227 – 6% a mais que o recorde anterior (18.164, entre 22 e 28/3). Foi a 20ª semana com mais de 7 mil mortes (12 dessas semanas foram registradas em 2021).
TAXAS DE CRESCIMENTO.
Tenho usado as taxas de crescimento no número de casos e de mortes para monitorar o rumo e o ritmo da pandemia [2]. A minha escolha tem se revelado bastante acertada.
Vejamos os resultados mais recentes.
Em comparação com as médias da semana anterior (22-28/3), as médias da semana passada (29/3-4/4) mostraram tendências distintas (ver a figura que acompanha este artigo).
A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,63% (22-28/3) para 0,5% (29/3-4/4) – o menor valor em seis semanas, embora ainda estejamos a patinar entre 0,5% e 0,6% [3].
A taxa de crescimento no número de mortes permaneceu em 0,86% (29/3-4/4) – foi a primeira vez em seis semanas que o valor não escalou [3, 4]! (Este resultado, no entanto, pode ser enganoso, visto que a metodologia de coleta e processamento de dados é sensível a semanas com feriados, como foi a semana passada.)
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FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 4/4/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.
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CODA.
A taxa de crescimento no número de novos casos teve uma queda expressiva na semana passada. Enquanto a de mortes permaneceu estacionária. Estes resultados, no entanto, podem ser enganosos.
As estatísticas ao longo desta semana irão ratificar ou retificar os resultados da semana passada. Saberemos então se as trajetórias da pandemia (casos e mortes) estão ou não a mudar de rumo.
Embora o Palácio do Planalto continue a apostar as suas fichas na confusão e no malfeito, há como estancar e reverter as tendências macabras observadas nos últimos meses. Não há mistério. Basta seguir o exemplo de cidades, estados ou países que venceram ou estão a vencer a pandemia. Neste sentido, reitero o que escrevi em artigos anteriores: Tomar as rédeas da situação (e sair da crise) depende sobremaneira da adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento [5].
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NOTAS.
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[1] Ontem (6/4), ainda segundo o MS, o país chegou a um total de 13.100.580 casos e 336.947 mortes.
[2] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver referência citada na nota 4.
[3] Entre 19/10 e 4/4, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3) e 0,5% (29/3-4/4); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3) e 0,86% (29/3-4/4).
Não custa lembrar: Os valores citados acima são médias semanais de uma taxa diária. Outra coisa: para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (uma semana depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos eles equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.
[4] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
[5] É um erro imaginar que a saída para a crise será pavimentada pela campanha de vacinação, mesmo na hipótese de que ela saía do marasmo em que se encontra. Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. E tal não ocorrerá antes do segundo semestre. E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).
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