17 setembro 2021

Boca a boca

Fernando Brant

i.

É na carne, é no osso
A dor vai penetrando
Quem sentirá tanto como eu minha agonia?

Delírio de velha
Visão ou lembrança
Ah, como eu fui jovem
E amei tanto (demais) a vida

Estou sozinha na cama fria
Meu corpo arde na lenta espera
Estou sozinha na cama, na vida
Estou sozinha diante da morte

É o medo, é o frio
Nas juntas, nos nervos
Quem me dará força
Para ver o fim do pavio (de tudo)

Eu tenho fé no mundo e nos homens
Eu tenho fé nesta louca aventura
Eu quero sim este ar que me falta
Eu quero sim respirar boca a boca, amar

ii.

É na carne, é no osso
A dor vai penetrando
Quem sentirá junto com você sua agonia?

Delírio de velha
Visão ou lembrança
Ah, como foi jovem
E amou demais a vida

Acreditou no mundo e nos homens
E teve fé nesta louca aventura
Ela quis sim este ar rarefeito
Ela quis sim respirar boca a boca, amar

E é boca a boca
Que a nova se espalha
Quem conheceu sabe
Era uma santa mulher

Ah, sirva sua dor de exemplo e sol
Ah, sirva como luz na noite escura

Fonte (parte i): álbum Renascer (1976), de Nana Caymmi. Versão da canção com as duas partes (aqui referidas como i e ii) apareceu no álbum de compilação Maria, Maria/Último trem (2009), de Milton Nascimento.

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