Tempo linear
Henrique Lins de Barros
A divisão das horas do dia, na Europa da Alta Idade Média, não era homogênea, pois possuía um caráter simbólico: a parte clara do dia era dividida em doze partes, assim como a noite, independente da época do ano. Às seis horas da manhã rezava-se pelo nascer do novo dia; no meio do dia marcava-se o momento em que o Sol estava mais alto; às seis horas, preces para garantir uma boa jornada durante a noite. A Igreja mantinha em seus campanários os relógios, que mais serviam para mostrar a riqueza e o poder religioso e a perfeição da obra divina refletida na habilidade e inteligência do homem, feito à imagem e semelhança do seu Criador, do que para marcar o intervalo de tempo como hoje conhecemos. Os relógios de Igreja não eram precisos, atrasavam vários minutos em uma única hora, mas mostravam um espetáculo à parte com os seus mecanismos engenhosos. A precisão não imperava como hoje, em que a medida do padrão horário tem um rigor jamais visto em toda a história da humanidade.
O crescimento da vida nas cidades, entretanto, trouxe mudanças sociais que implicavam mudanças nas concepções de tempo e de espaço. A nova divisão do trabalho e a conquista do poder urbano por parte da burguesia fizeram surgir outro tempo, que contrasta com o tempo da Igreja: é o tempo do mercador, com o aparecimento dos relógios comunais em fins do século XIII [...]. Esse tempo é regido pelo relógio mecânico que divide o dia em horas de mesma duração, independente da estação do ano. Nesse momento, o caráter simbólico do tempo eclesiástico começa a perder espaço. O que rege o tempo, agora, é o mecanismo do relógio. Há como que uma certa democratização da hora: todas as horas têm a mesma duração e, se antes era o valor simbólico que definia o intervalo entre horas consecutivas, agora o artefato construído pelo homem fornece a passagem do tempo de forma contínua e suave. O dia não nasce sempre às seis horas nem termina às 18, pois o comércio entre as cidades não pode estar sujeito às estações [...].
Fonte: Lins de Barros, H. 2000. Entropia e vida: a questão do tempo linear. In: El-Hani, C. N. & Videira, A. A. P. (orgs.) O que é vida? RJ, Relume Dumará.
O crescimento da vida nas cidades, entretanto, trouxe mudanças sociais que implicavam mudanças nas concepções de tempo e de espaço. A nova divisão do trabalho e a conquista do poder urbano por parte da burguesia fizeram surgir outro tempo, que contrasta com o tempo da Igreja: é o tempo do mercador, com o aparecimento dos relógios comunais em fins do século XIII [...]. Esse tempo é regido pelo relógio mecânico que divide o dia em horas de mesma duração, independente da estação do ano. Nesse momento, o caráter simbólico do tempo eclesiástico começa a perder espaço. O que rege o tempo, agora, é o mecanismo do relógio. Há como que uma certa democratização da hora: todas as horas têm a mesma duração e, se antes era o valor simbólico que definia o intervalo entre horas consecutivas, agora o artefato construído pelo homem fornece a passagem do tempo de forma contínua e suave. O dia não nasce sempre às seis horas nem termina às 18, pois o comércio entre as cidades não pode estar sujeito às estações [...].
Fonte: Lins de Barros, H. 2000. Entropia e vida: a questão do tempo linear. In: El-Hani, C. N. & Videira, A. A. P. (orgs.) O que é vida? RJ, Relume Dumará.
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