Veneziana
José Santos Chocano
O marmóreo Palácio, que, nos turvos canais,
grava sua brancura como visão de encanto,
dorme: já a noite o envolve em seu sedoso manto
e uma Lua coquete ri-se nos seus cristais.
Uma gôndola sulca as águas sepulcrais;
risonho bandolim tange um galante engenho;
abrem-se gelosias; e o amoroso empenho
corre escadas rangentes e prepara punhais.
Beijo, suspiro, arrulho. (Diálogo de pombas...)
Rasga a dama ao amor a estreita vestidura,
e saltam livremente suas virgíneas pomas...
Distante remo turba a quietude... Uma terna
fuga entre abraços; e eis que, em meio à noite escura,
por sobre a água estremece a luz de uma lanterna.
Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema escrito em 1911.
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