O capitalismo (infelizmente) é uma ficção
Felipe A. P. L. Costa [*]
A semana começou agitada e hoje eu tive uma grande lição de economia política: devo dizer que amo o capitalismo, pena que as corporações o odeiem tanto [1].
Penso e pratico a livre iniciativa desde menino. Uma das minhas primeiras iniciativas como empreendedor foi por volta de 1970, em plena ditadura. Eu tinha então uns 10-11 anos. Morávamos no Cruzeiro Novo, em Brasília [2]. O comércio local era muito incipiente e eu decidi entrar no ramo. Comprei doces e balas em uma distribuidora da Campineira [3], que ficava na W-3 Sul, e fui revender no Cruzeiro.
Lembro bem do meu raciocínio inicial. Naquela época, três balas eram vendidas por algo como 10 centavos. Fiz as contas e percebi que poderia ter lucro oferecendo quatro balas, com a vantagem adicional de poder atrair mais consumidores [4]. E foi o que eu fiz. Não deu para ficar rico, como ficaram ricos os irmãos metralha das Americanas, mas a brincadeira foi adiante.
Os gigantes do mundo corporativo fazem exatamente o oposto. Veja o comportamento das big techs (e.g., Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft): compram ou esmagam a concorrência [5]. As corporações agem contra a livre iniciativa, pois elas simplesmente não admitem concorrência. No fim das contas, claro, quem paga o pato é o consumidor: hoje, em um universo econômico cada vez mais dominado por monopólios, os meus clientes de outrora não conseguiriam comprar mais do que uma bala por 10 centavos, ou talvez nem isso.
NOTAS.
[*] Sobre a campanha Pacotes Mistos Completos (por meio da qual é possível adquirir, sem despesas postais, os quatro livros anteriores do autor), ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para adquirir os quatro volumes ou algum volume específico ou para mais informações, faça contato pelo endereço felipeaplcosta@gmail.com. Para conhecer artigos ou obter amostras dos livros, ver aqui.
[1] Três exemplos de como as empresas odeiam a livre iniciativa e a concorrência. (i) Parasitas prosperam debaixo das asas do estado, até mesmo em situação de tragédias (ver aqui); (ii) O mundo dos negócios é a verdadeira origem de toda a corrupção. Corruptos graúdos, no entanto, raramente são importunados. Criam fundações, aliciam jornalistas, iludem o público e, por fim, quando vaza alguma coisa, contratam um exército de advogados. Em alguns países, essa gente até amealha para si empresas de interesse público (ver aqui); e (iii) A privatização de empresas estatais, como foi o caso recente da empresa de abastecimento de água do estado de São Paulo, quase que invariavelmente envolve falcatruas gordas e sinistras (ver aqui).
[2] Cruzeiro Novo é um bairro residencial com prédios de até quatro andares (sem elevador), enquanto o Cruzeiro Velho, ao lado, é (ou ao menos era) composto apenas de casas. Quando morei lá, ainda não havia comércio estabelecido no Cruzeiro Novo. O comércio era móvel: caminhões com mercadorias (legumes, frutas, doces etc.), que iam e vinham, permanecendo estacionados por algum tempo em certos lugares.
[3] Quando fui morar em Campinas, em 1980, tive a satisfação de conhecer a fábrica da Campineira.
[4] Como se vê, a ideia de que o consumidor toma decisões racionais, visando minimizar gastos e maximizar ganhos, é um pressuposto da economia clássica acessível às crianças. (Para um ponto de vista alternativo, ver aqui.)
[5] A rigor, as corporações fazem algo ainda pior: drenam para si os recursos do estado. Sem a intervenção direta dos estados nacionais, por exemplo, inúmeras empresas mundo afora teriam ido à falência durante o auge da pandemia de Covid-19. Como um modo de esconder toda essa sangria e ludibriar o público, as empresas e seus bajuladores (incluindo aí a imprensa) difundem a crença de que o estado está inchado e é gastador. Muita gente de boa-fé acredita nessa lorota. Então, quando os ideólogos ou os marqueteiros da ‘economia de mercado’ assopram o apito, essa gente aponta o dedo para quem mais sofre com os horrores da economia sem concorrência: os desempregados e os pobres em geral.
Penso e pratico a livre iniciativa desde menino. Uma das minhas primeiras iniciativas como empreendedor foi por volta de 1970, em plena ditadura. Eu tinha então uns 10-11 anos. Morávamos no Cruzeiro Novo, em Brasília [2]. O comércio local era muito incipiente e eu decidi entrar no ramo. Comprei doces e balas em uma distribuidora da Campineira [3], que ficava na W-3 Sul, e fui revender no Cruzeiro.
Lembro bem do meu raciocínio inicial. Naquela época, três balas eram vendidas por algo como 10 centavos. Fiz as contas e percebi que poderia ter lucro oferecendo quatro balas, com a vantagem adicional de poder atrair mais consumidores [4]. E foi o que eu fiz. Não deu para ficar rico, como ficaram ricos os irmãos metralha das Americanas, mas a brincadeira foi adiante.
Os gigantes do mundo corporativo fazem exatamente o oposto. Veja o comportamento das big techs (e.g., Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft): compram ou esmagam a concorrência [5]. As corporações agem contra a livre iniciativa, pois elas simplesmente não admitem concorrência. No fim das contas, claro, quem paga o pato é o consumidor: hoje, em um universo econômico cada vez mais dominado por monopólios, os meus clientes de outrora não conseguiriam comprar mais do que uma bala por 10 centavos, ou talvez nem isso.
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NOTAS.
[*] Sobre a campanha Pacotes Mistos Completos (por meio da qual é possível adquirir, sem despesas postais, os quatro livros anteriores do autor), ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para adquirir os quatro volumes ou algum volume específico ou para mais informações, faça contato pelo endereço felipeaplcosta@gmail.com. Para conhecer artigos ou obter amostras dos livros, ver aqui.
[1] Três exemplos de como as empresas odeiam a livre iniciativa e a concorrência. (i) Parasitas prosperam debaixo das asas do estado, até mesmo em situação de tragédias (ver aqui); (ii) O mundo dos negócios é a verdadeira origem de toda a corrupção. Corruptos graúdos, no entanto, raramente são importunados. Criam fundações, aliciam jornalistas, iludem o público e, por fim, quando vaza alguma coisa, contratam um exército de advogados. Em alguns países, essa gente até amealha para si empresas de interesse público (ver aqui); e (iii) A privatização de empresas estatais, como foi o caso recente da empresa de abastecimento de água do estado de São Paulo, quase que invariavelmente envolve falcatruas gordas e sinistras (ver aqui).
[2] Cruzeiro Novo é um bairro residencial com prédios de até quatro andares (sem elevador), enquanto o Cruzeiro Velho, ao lado, é (ou ao menos era) composto apenas de casas. Quando morei lá, ainda não havia comércio estabelecido no Cruzeiro Novo. O comércio era móvel: caminhões com mercadorias (legumes, frutas, doces etc.), que iam e vinham, permanecendo estacionados por algum tempo em certos lugares.
[3] Quando fui morar em Campinas, em 1980, tive a satisfação de conhecer a fábrica da Campineira.
[4] Como se vê, a ideia de que o consumidor toma decisões racionais, visando minimizar gastos e maximizar ganhos, é um pressuposto da economia clássica acessível às crianças. (Para um ponto de vista alternativo, ver aqui.)
[5] A rigor, as corporações fazem algo ainda pior: drenam para si os recursos do estado. Sem a intervenção direta dos estados nacionais, por exemplo, inúmeras empresas mundo afora teriam ido à falência durante o auge da pandemia de Covid-19. Como um modo de esconder toda essa sangria e ludibriar o público, as empresas e seus bajuladores (incluindo aí a imprensa) difundem a crença de que o estado está inchado e é gastador. Muita gente de boa-fé acredita nessa lorota. Então, quando os ideólogos ou os marqueteiros da ‘economia de mercado’ assopram o apito, essa gente aponta o dedo para quem mais sofre com os horrores da economia sem concorrência: os desempregados e os pobres em geral.
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