09 dezembro 2006

Com Chessman, cara a cara

Osvaldo Faria

Quando cismei de entrevistar [Caryl] Chessman, eu não tinha idéia do que realmente ia fazer. Naqueles tempos [1960], eu era repórter esportivo e policial da [Rádio] Itatiaia. Li no Diário da Tarde uma notícia de primeira página: “Chessman apela pela décima vez”. Disse comigo mesmo, sem avaliar as conseqüências: vou entrevistar esse cara, que tá com tanto cartaz na imprensa.


Comuniquei minha decisão ao Januário Carneiro, que a aprovou. Então tratei de conseguir os patrocínios necessários para a viagem, tendo levantado o equivalente a quatro mil reais, dois mil para as passagens e dois mil para as outras despesas.


Comprei um dicionário português-inglês, pois não sabia nada da língua inglesa, e parti com cara e coragem para a minha primeira reportagem internacional.


Por um erro, fui parar em Los Angeles, quando devia ir para Sacramento, pois tinha de obter a autorização para a entrevista com o governador da Califórnia, George Brown, naquela última cidade. Depois de muitas peripécias, acabei chegando lá. No hotel modesto em que me hospedei, conheci um espanhol muito simpático, Juan de la Riega, ainda me recordo do seu nome, que falava inglês fluentemente e que me levou à sede do governo, onde consegui a autorização.


No dia seguinte, tomei um ônibus para San Francisco, onde ficava a penitenciária de San Quentin, na qual Chessman estava preso, viajando na companhia de um porto-riquenho – o segundo anjo da guarda que encontrei em minha aventura nos EUA – que me acompanhou até a penitenciária. Mas aí surgiu um outro problema, que quase pôs tudo a perder. Chegamos lá às 12 horas, quando a entrevista estava marcada para as dez. O diretor me disse que se Chessman quisesse me receber, mesmo com atraso, era problema dele, senão, nada feito. Chessman quis, felizmente.


Na cela 2.455, onde passara tantos anos à espera da morte, Chessman me concedeu sua dramática entrevista, a última de sua vida e a mais emocionante de minha longa história de jornalista. Ao final, ainda me entregou sua caneta, dizento: “Leve como lembrança, não vou mais precisar dela”. O porto-riquenho, que funcionou como intérprete, começou a chorar.


Depois nos despedimos, dando-nos as mãos, e eu resolvi entrar na câmara de gás.
Mas antes tive de obter outra autorização do governador. Telefonaram para ele e ele disse: “É um desejo muito tétrico, mas, se ele quer, deixa”. Então, entrei na sala. O cheiro de éter me fez mal e saí vomitando.

O [jornal] Binômio deu um furo internacional.


Fonte: Rabêlo, J. M. 1997. Binômio: edição histórica. BH, Armazém de Idéias & Barlavento Grupo Editorial.

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