26 julho 2007

A uma margarida do campo

Robert Burns

1.

Vil, modesta flor de rubra corola,
Comigo deparaste em má hora;
Quando na terra acabo de esmagar-te
E a tua fina haste:
Agora supera as minhas forças poupar-te,
Oh, linda jóia.

2.
Mas oh! não é tua doce vizinha a
Linda cotovia, que te faz companhia
A ti se curvando na chuva de orvalho,
Com o peito pintado!
Quando feliz salta mais alto, e saúda
O leste encarnado?

3.
Frio e cortante soprou o vento norte
Sobre o teu berço humilde e jovem;
Ainda assim feliz brilhaste
Na tempestade,
Mal se elevando acima da mãe-terra
Tua delicada haste.

4.
As férteis flores em nossos jardins
Precisam do refúgio de bosques ou muros,
Mas tu, embaixo do abrigo do acaso,
De terra ou de pedra,
Adornas o seco restolhal,
Recôndita e solitária.

5.
Ali, de teu parco manto vestida,
Tuas alvas pétalas, para o sol erguidas,
Elevas a modesta corola despretensiosa
Em humilde roupagem;
Mas agora o arado teu leito revolve,
E sob o chão, jazes!

6.
Tal é o fado da moça cândida,
Doce florzinha das sombras rústicas!
No seu simplório amor traída,
E em sua tola confiança;
Até que ela, maculada como tu,
É atirada na lama.

7.
Tal é o fado do simples Bardo,
No oceano da Vida encapelado!
Incapaz de perceber a carta
Da prudência,
Até que bramem vagas e varrem borrascas
Que o arrasam!

8.
Tal é o inditoso fado do sofredor Poeta,
Que em penúrias e infortúnios labuta,
Mas pelo orgulho ou astúcia é levado
Ao abismo da miséria;
Até que, sem apoio nenhum senão do Céu,
Sucumbe, arruinado!

9.
Mesmo tu, que o fado da flor lastimas,
Será esta tua sina – em data não distante;
Exultante golpeará o arado da Ruína
Teu florescer,
Até que, esmagado ao peso da charrua,
Será a destruição tua!

Fonte: Burns, R. 1994. 50 poemas. RJ, Relume-Dumará. Poema – cujo subtítulo é “Ao revirá-la com o arado” – originalmente publicado em 1786.

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