A vida no frio e no calor
Frances Ashcroft
Aventure-se ao ar livre num dia nevoento de inverno vestindo um short e uma camiseta fina e o frio vai lhe tirar o fôlego. Sua pele empalidece, seus braços nus ficam arrepiados e você começa a tremer violentamente, como se seu corpo reagisse ao frio reduzindo a perda e aumentando a produção de calor.
Como o calor flui dos corpos quentes para os frios, todos os animais que mantêm sua temperatura corporal acima da do ambiente, como os seres humanos, perdem calor constantemente. [...] [A] taxa de perda de calor é determinada pela quantidade de sangue aquecido que flui perto da superfície da pele, e quanto maior o fluxo de sangue, mais calor será perdido. Uma estratégia-chave para a conservação do calor é, portanto, reduzir o fluxo de sangue para a pele. No entanto, isso só pode ser tolerado sem dano numa extensão limitada, porque os tecidos de superfície poderiam ficar privados de oxigênio e nutrientes.
Quando a temperatura do ar cai, os vasos sanguíneos da pele se contraem, desviando o sangue aquecido da superfície, de modo que a pele fica pálida e o calor é conservado. Paradoxalmente, quando a temperatura cai abaixo de cerca de 10°C, os vasos sanguíneos superficiais da pele se dilatam em vez de se contrair e, se a temperatura cair ainda mais, períodos de vasodilatação alternam com períodos de vasoconstrição. Essas oscilações impedem que a pele seja danificada por frio severo e asseguram que ela receba um suprimento adequado, ainda que intermitente, de oxigênio. O fenômeno explica o nariz e as mãos vermelhos característicos do tempo gélido e é particularmente bem desenvolvido naqueles que trabalham ao ar livre em climas frios, como os pescadores. Você pode testar isso muito facilmente mergulhando sua mão na água fria. De início, a redução da temperatura estimula os vasos sanguíneos a se contraírem e sua pele vai ficar branca. Gradualmente, sua mão começará a doer e a ficar cada vez mais dolorida. Isso é provavelmente resultado da formação de metabólitos tóxicos, causada pela falta de fluxo sanguíneo. Depois de cinco a dez minutos, no entanto, a pele ficará vermelha e a dor cederá simultaneamente, à medida que a vasodilatação ocorre.
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Assim como a comida é a chave para a sobrevivência no frio, a água é o fator limitante para a vida no calor. A capacidade de refrigeração pelo suor copioso depende da disponibilidade de água e a principal dificuldade na vida no deserto não é o calor, mas a aridez. Se as pessoas podem passar muitos dias sem comida, elas não sobrevivem muito tempo sem água. [...]
Quando não se repõe a água perdida no suor através da ingestão de líquidos, a desidratação ocorre. Isso estimula a secreção de hormônios que atuam ao mesmo tempo para conservar a água, reduzindo a quantidade perdida na urina, e para aumentar a ingestão de água, fazendo a pessoa sentir sede. [...] A maioria das pessoas pode tolerar um decréscimo de 3 a 4% da água do corpo sem dificuldade. Fadiga e tonteira ocorrem quando se perdem 5-8%, ao passo que uma perda de mais de 10% causa deterioração física e mental, acompanhada de sede severa. Perdas de mais de 15-25% da água do corpo são invariavelmente fatais.
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Quando estamos muito ativos, perdemos mais água do que consumimos espontaneamente. Simplesmente não tomamos água o bastante para evitar a desidratação e podemos ficar incapacitados por falta de água sem sentirmos uma sede intolerável. Somente quando estamos descansados e alimentados tomamos água suficiente para repor a que se perdeu no suor. Quando se faz exercício num clima quente, é necessário, portanto, beber água, mesmo sem sentir sede. Se a água for escassa, no entanto, a melhor estratégia é parar a atividade e ficar sentado quieto à sombra.
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Fonte: Ashcroft, F. 2001. A vida no limite. RJ, Jorge Zahar.
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