10 outubro 2011

A costa de Dover

Matthew Arnold

O mar, esta noite, está calmo.
A maré está cheia, a lua muito bela
Sobre os estreitos – na costa francesa, a luz
Brilha e desaparece; os vastos penhascos, da Inglaterra,
Tremeluzindo lá na baía tranqüila.
Vem à janela; doce é o ar da noite! Ouve!
Somente na longa linha de espuma
Onde o mar encontra a terra esbranquiçada pela lua
Ouvirás o bramido rouco
Dos seixos que as ondas recolhem e atiram.
Na volta, na orla alta,
Começam e param; depois recomeçam,
Com trêmula e lenta cadência, e trazem
A eterna nota de tristeza.

Sófocles, há muito tempo,
Ouviu-a no Egeu, trazendo-lhe
O turvo fluxo e refluxo
Da miséria humana; nós
Também encontramos no som um pensamento,
Ouvindo-o neste distante mar do norte.

Também o Mar da Fé
Uma vez esteve cheio e estendeu-se ao redor da praia da terra
Como as dobras de uma faixa viva.
Mas agora eu só ouço
Seu bramido melancólico, longo,
Que pelas imensas orlas, desolado,
Nas lousas frias do mundo,
Se afasta ao sopro do ar da noite.

Amor! Vamos ser fiéis
Um ao outro! Pois o mundo que,
Tão variado, tão belo, tão novo,
Parece estender-se como uma terra de sonhos,
Na verdade não tem alegria, nem amor, nem luz,
Nem certeza, nem paz, nem ajuda para a dor;
Aqui estamos como numa planície escura,
Arrastados por confusos alarmes de luta e de fuga,
Onde exércitos ignorantes se chocam durante noite.

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Companhia Editora Nacional & Edusp. Poema publicado em livro em 1867.

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