Voltarão as escuras andorinhas
Gustavo Adolfo Bécquer
Voltarão as escuras andorinhas
A em teu balcão seus ninhos pendurar,
E aos teus cristais com a asa novamente
Brincando chamarão;
Mas aquelas que o vôo interrompiam,
Teu rosto e o meu enleio a contemplar,
Aquelas que aprenderam nossos nomes...
Essas não voltarão!
Voltarão as espessas madressilvas
De teu jardim as cercas a escalar,
E de tarde, outra vez, ainda mais belas,
As flores abrirão;
Mas aquelas, molhadas pelo orvalho,
Cujas gotas olhávamos rolar
E cair como lágrimas do dia…
Essas não voltarão!
E voltarão do amor aos teus ouvidos
As palavras ardentes a soar;
Teu coração do seu profundo sono
Talvez despertará;
Mudo porém, e absorto e de joelhos,
Como se adora a Deus em seu altar,
Como eu sempre te quis... ah, desengana-te,
Nunca te quererão!
Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira. O trecho acima integra uma obra mais ampla, intitulada Rimas, publicada em livro em 1871.
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