A aranha
Num ângulo do teto, ágil e astuta, a aranha
Sobre invisível tear tecendo a tênue teia,
Arma o artístico ardil em que as moscas apanha
E, insidiosa e sutil, os insetos enleia.
Faz do fluido que flui das entranhas a estranha
E fina trama ideal de seda que a rodeia
E, alargando o aronhol, os elos emaranha
Do alvo disco nupcial, que a luz do sol prateia.
Em flóculos de espuma urde, borda e desenha
O arabesco fatal, onde os palpos apóia
E, tenaz, a caçar os insetos se empenha.
Vive, mata e produz, nessa faina enfadonha;
E, o fascinante olhar a arder como uma jóia,
Morre na própria teia, onde trabalha e sonha.
Fonte: Ricieri, F., org. 2008. Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira. SP, Ibep. Poema publicado em livro em 1917.
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