Por que sonhamos?
Robert Kanigel
A cada noite que deitamos, insensíveis ao mundo exterior, com os globos oculares rolando sob as pálpebras fechadas, cenas e histórias dardejam em nossas mentes. Mas que função é exercida pelos nossos sonhos? A pergunta tem perseguido os seres humanos há milhares de anos.
Em 1900, Freud escreveu em seu livro A interpretação dos sonhos que a ciência contribuiu com “pouco ou nada que qualificasse a natureza essencial dos sonhos ou que oferecesse uma solução final a quaisquer de seus enigmas”. No começo dos anos 50, os pesquisadores do sono encontraram provas de períodos regulares de sono cheios de sonhos, chamados de sono REM (rapid eye movement), devido ao movimento rápido dos olhos que ocorre durante um total de duas horas a cada noite. Desde então, as informações têm-se acumulado. E, no entanto, a observação de Freud no começo do século bem poderia ser aplicada nos dias de hoje.
Talvez o sono REM sirva para “limpar” o sistema nervoso dos metabólitos depositados durante o dia. Outros sugeriram que sonhar é principalmente útil no início do desenvolvimento da criança, talvez por ajudar a estabelecer os circuitos cerebrais de que o feto e a criança precisam para processar informações. Seres humanos recém-nascidos, é sabido, passam cerca de metade de suas horas de sono sonhando, comparados com apenas quinze por cento no caso das pessoas na casa dos sessenta anos.
De qualquer forma, o que não faltam são teorias. Alguns ubíquos, outros bizarros, todos oferecendo farto material para cochichos ao amanhecer e revelações íntimas emanadas do divã do psiquiatra, os sonhos claramente convidam a teorias. Por que, conforme demonstram as provas colhidas num laboratório do sono, lembramo-nos de alguns sonhos e esquecemo-nos de outros? Por que sua lógica é bastante falha? Por que alguns temas são repetidos, tais como quedas e perseguições? E, o mais importante, por que sonhar? Uma síntese abrangente ainda não está ao nosso alcance, frustrada não tanto pelas provas conflitantes como pelas perspectivas teóricas que mal têm a ver umas com as outras.
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Fonte: Leigh, J. & Savold, D., orgs. 1991 [1988]. O dia em que o raio correu atrás da dona-de-casa... e outros mistérios da ciência. SP, Nobel.
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