Ciência: razão ou religião?
Imre Lakatos
Durante séculos o conhecimento significou conhecimento provado – provado pela força do intelecto ou pela prova dos sentidos. A sabedoria e a integridade intelectual exigiam que o homem abrisse mão das afirmativas não-provadas e minimizasse, até em pensamento, o hiato existente entre a especulação e o conhecimento estabelecido. A força demonstrativa do intelecto ou dos sentidos foi posta em dúvida pelos céticos há mais de dois mil anos; mas eles foram intimidados e confundidos pela glória da física newtoniana. Os resultados de Einstein tornaram a virar a mesa e, agora, pouquíssimos filósofos ou cientistas ainda pensam que o conhecimento científico é, ou pode ser, o conhecimento demonstrado. Poucos compreendem, porém, que, com isso, toda a estrutura clássica dos valores intelectuais desmorona e precisa ser substituída: não se pode simplesmente jogar por terra o ideal da verdade demonstrada – como fazem alguns empiristas lógicos – reduzindo-o ao ideal da “verdade provável” nem – como fazem alguns sociólogos do conhecimento – à “verdade pelo consenso [mutável]”.
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Fonte: Lakatos, I. & Musgrave, A. 1979 [1965]. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. SP, Cultrix & Edusp.
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