11 abril 2013

Inteligência, linguagem e a mente humana

Richard E. Leakey & Roger Lewin

Quando você fala com um bebê bem novinho, acontece uma coisa curiosa. Juntamente com o mexer dos bracinhos, o balbucio e os olhinhos vivos e arregalados que fazem sorrir até o mais sisudo dos adultos, o corpo do bebê agita-se com movimentos musculares coordenados, movimentos que só podem ser detectados com equipamento eletrônico muito sensível. Essa extraordinária resposta, só há pouco descoberta, é uma poderosa demonstração da profundidade com que a linguagem está enraizada no cérebro humano. Nesse bebê, toda uma constelação de minúsculos e quase imperceptíveis movimentos são gerados pelo cérebro, como resultado do som emitido pelo maravilhado adulto. Mais surpreendentemente ainda – mas talvez como reflexo inevitável – é a descoberta de que ocorre o mesmo fenômeno, qualquer que seja a diferença de nacionalidade entre o bebê e o adulto. Um bebê americano responde aos sons das línguas chinesa, russa, francesa, exatamente como aos sons da língua inglesa.

A linguagem falada é talvez o último e por certo o mais significativo passo na evolução do cérebro humano. A capacidade da comunicação oral eleva as possibilidades da educação infantil a novos e fecundos níveis, e é incomparável como veículo de desenvolvimento e transmissão da cultura. Embora seja possível uma tradição cultural mais ou menos rica em animais mudos, refletida num modelo concretizado em modificação física do ambiente e talvez combinado com alguma forma de comunicação por gestos, a linguagem falada, como nós a praticamos, amplia sem limites as sutilezas potencias da organização cultural.
[...]

Fonte: Leakey, R. E. & Lewin, R. 1980 [1977]. Origens. SP & Brasília, Melhoramentos e Editora da UnB.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker