Somos água borbulhante
Oliver Friggieri
Nossa história se esgotará um dia
como águas turbulentas que se acalmam,
como pedra rolante que se vai freando,
como o tique-taque terminal de um relógio.
Ao anoitecer, quando a escuridão desce sobre nossas casas,
nossos filhos nos perguntam o que aconteceu hoje.
Sem saber a resposta, desconversamos
e cantarolamos um estranho hino nascido, gêmeo, conosco:
“Somos água borbulhante que ninguém beberá,
porque nossas ondas contêm um sal letal.
Somos pedras arrancadas de templos
de deuses valetudinários, mortos desesperados
em guerra fraticida. Somos pêndulos
cuja energia se vai consumindo até o nada”.
Fonte: Freire, C. 2004. Babel de poemas: uma antologia multilíngüe. Porto Alegre, L&PM.
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