A explicação como redução ao conhecido
Carl G. Hempel
Afirma-se, algumas vezes, que o papel de uma explicação é o de tornar compreensível um fato novo ou não conhecido, por meio de processo que o assimile ou reduza a fatos que já nos são familiares. Contudo, não há dúvida de que essa idéia não caracteriza adequadamente a explicação científica.
Sem cogitarmos da fluidez e subjetividade da noção de familiaridade aqui invocada, diremos que essa concepção sugere, antes de tudo, que os fatos familiares não requerem explicações. Entretanto, se, em nossa vida cotidiana, podemos admitir essa maneira de ver, não pode ocorrer o mesmo no campo da Ciência. Em verdade, a Ciência tem-se dado a grandes esforços para explicar a variação das marés, as tempestades, o arco-íris, o azul do céu, as semelhanças entre pais e filhos, os lapsos no falar e no escrever, as lacunas de memórias e muitas outras coisas ‘familiares’. O ponto é ilustrado, de maneira marcante, pelo paradoxo de Olbers. Em 1826, o astrônomo alemão Heinrich Olbers notou que, como conseqüência de umas poucas presunções simples e extremamente plausíveis, inclusive algumas leis da ótica e a hipótese de que as estrelas se distribuem uniformemente por todo o universo, o céu deveria mostrar-se muito brilhante em todas as direções, dia e noite. Dessa forma, o fato de a noite ser escura, fato que nos é tão familiar, foi visto como fonte de sério problema, para o qual se reclamava explicação. Resposta foi recentemente sugerida com base na teoria cosmológica de um universo em expansão: pode ser demonstrado, em verdade, que a extinção de remotas fontes de luz responde pelo fato de a escuridão dominar a noite. Eis, pois, um fato muito conhecido que vem a ser explicado em termos de uma teoria onde se reúnem idéias pouco familiares e, para dizer tudo, muito estranhas.
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