03 fevereiro 2014

Língua de boi ou falavera

Leomar Fróes

às vezes eu fico olhando para o rosto
de qualquer pessoa
com um olho nero em fogo e outro bobo de atenção
de procuração para ver se enxergo as cooperativas vivas
de cada solidão
mesmo se não acho acredito até que cada cara
tem uma tarefa contínua e incessante
com as dores do parto
do instante
então me dá vontade quando agarro uma boca parada
de reclamação
de enfiar os dedos nela só pra ver
se encontro a língua falavera ou para ver se os dentes
mordem
mais e mundo além de alguém também me dá vontade
de beliscar
no ponto de consolo de uns olhos gelados
só pra desfiscalizar os nervos de controle e fazer
piscar três vezes uma lágrima
de boi
no matadouro.

Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª edição. RJ, Aeroplano.

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