Efemeridade, efemeridade
Lindolf Bell
A palavra não é nebulosa
estrela.
Sequer desarticulada ilha
de afinidades.
Estopim aceso, sim, águas
de inquietação,
a palavra não é jogo de
dados.
Jogo de dúvidas, sim,
dádivas,
dardos envenenados de
selvagem silêncio.
Por um fio a palavra é
prata.
Por um fio a palavra é
pata de cavalo.
Por um fio, ato de
injustiça.
Não há nenhuma pressa na
palavra
em seu destino de lesma.
A palavra, flor justa se
for bem usada.
A palavra de fogo-fátuo
feita.
A palavra que não faz
acordos em vão.
A palavra
é não dar com a língua
nos dentes.
Ainda que arranquem a
língua.
E cortem a palavra em
pedaços
e a exponham em postes
públicos da degradação.
Não é sempre a palavra
só tiro de festim.
Pode ser fim de linha.
Quimera, exato fingimento
de vôo.
Nada, tudo, nunca e
ninguém.
Assentimento, delicada
práxis de afetos,
que somente se adivinha.
A palavra
que em breve
será a palavra dentro em
breve.
A palavra
que se reveste de linho
real
na linha real da vida:
efemeridade,
efemeridade.
Fonte (seis versos):
Nejar, C. 2011. História da literaturabrasileira. SP, Leya. Poema publicado em livro em 1984.
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