Tesourinhas
Messias Carrera
Os insetos desta ordem
são chamados vulgarmente de “tesourinha” ou “lacrainha” por causa da presença
de dois apêndices, como se fossem dois ferrões, que se encontram no ápice do
abdome. Na realidade são apêndices do 10º segmento abdominal que recebem o nome
de cercos. Os Dermáteros raramente passam de 1 cm de comprimento; suas antenas
são filiformes e longas; as mandíbulas desenvolvidas; o protórax grande; as asas
anteriores muito pequenas e coriáceas (élitros), as posteriores membranosas e grandes,
dobradas em leque por baixo dos élitros; existem espécies sem asas; pernas
curtas; tarsos com três artículos; abdome com onze segmentos; cercos
desenvolvidos, com hastes às vezes paralelas, mas quase sempre convergentes, em
forma de pinça. A presença de cercos tão desenvolvidos permite distinguir
rapidamente os Dermápteros [...] dos besouros Estafilinídeos, família de
Coleópteros cujas espécies também possuem élitros muito reduzidos.
São insetos terrestres,
de hábitos noturnos, escondendo-se durante o dia sob a casca das árvores, nas fendas
do solo ou das pedras. Locomovem-se com agilidade, mantendo os cercos voltados
para cima, como acontece com Doru lineare,
espécie muito comum de tesourinha que ocorre no Brasil, desde Minas Gerais até
o Rio Grande do Sul. Este inseto, com 10 mm de comprimento, corpo
castanho-avermelhado e élitros amarelos, costuma entras em nossas casas nas
noites de calor, quando então os vemos andar celeremente sobre a mesa que a luz
ilumina. Os Dermápteros são inofensivos e sem grande importância econômica.
Nutrem-se principalmente de vegetais, mas existem espécies com hábitos
alimentares diferentes; Strongylopsalis
mathurinii, espécie do Rio de Janeiro, ataca vísceras secas de bovinos
destinadas à fabricação de salsichas, bem como charque, couros, ossos, chifres
e cascos; esta mesma espécie foi criada em laboratório com queijo; certas
espécies são carnívoras, canibais, capturando suas presas e levando-as à boca
com as pinças do ápice do abdome.
Em uma espécie de Forficula da Europa se observou o
estremo zelo que a fêmea dispensa à sua desova e às formas jovens que daí se
originam. Hábitos semelhantes se observaram em duas espécies brasileiras: Forcepsia pulla e Strongylopsalis mathurinii. O instinto maternal desta última é
bastante acentuado e perdura até a primeira semana após a eclosão das ninfas. A
fêmea, que desova em local sombrio e abrigado, não se afasta da postura,
ajeitando os seus ovos, cuidadosamente, com as antenas e peças bucais; depois,
procura romper com as mandíbulas a casca dos ovos, para auxiliar as ninfas a se
libertarem. Os filhotes, uma vez livres, reúnem-se em baixo ou ao redor do
corpo materno, às vezes bem perto da boca para recolher o alimento que a mãe
regurgita. É notável a sua fúria quando se trata de defender a prole; se algum
inseto se aproxima da ninhada, ela avança decididamente contra o intruso,
atacando-o com os cercos, voltando em seguida para junto dos filhotes. Depois de
uma semana as ninfas começam a se afastar em busca do seu próprio alimento, dispensando
os cuidados maternos.
[...]
Fonte: Carrera, M. 1980. Entomologia para você, 5ª edição. SP, Nobel.
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