Chama-se o ladrão
Luigi Moscatelli
A verdade de um criminoso
comum, um pé-de-chinelo qualquer, não é encontrada tecnológica e
cientificamente segundo o modelo de Sherlock Holmes, isto é, na procura obsessiva
de todos os elementos causais detonadores do crime. Ela estará sempre presente
nos signos que ele assimila, possui e transmite: cor de pele, tipo de roupa,
tipo de trabalho, moradia, relações familiares, antecedentes, atitudes,
raciocínio, maneira de falar, locais que freqüenta. Pinçá-los na rede da
justiça através das mãos de um policial não significa extirpar um mal,
significa enviar ao seu meio de origem a seguinte mensagem: cuidado, permaneçam
obedientes, estamos sempre vigilantes! Sabendo-se que este meio é um caldeirão
da criminalidade a alimentar todos os focos de transgressões, uma outra mensagem
é enviada a segmentos sociais economicamente superiores: nossa ação é
imprescindível, violenta e desumana por vezes, porém necessária; vejam que
espécie de seres nos cercam; somos o vosso amparo.
[...]
Para que estas mensagens sejam válidas, será sempre necessária a produção de um transgressor que as justifique. A partir daí, serão elaboradas extensas batidas policiais contra prostitutas, desocupadas, vagabundos, mendigos, viciados em maconha; tomam-se de assalto favelas, espalhafatosamente atira-se a esmo, ferindo e matando ao acaso. Pouco importa. Sempre serão “criminosos em potencial, gente de segunda categoria, ralé”.
[...]
Fonte: Moscatelli, L. 1982. Política da repressão: Força e poder de uma justiça de classe. RJ, Achiamé & SOCII.
[...]
Para que estas mensagens sejam válidas, será sempre necessária a produção de um transgressor que as justifique. A partir daí, serão elaboradas extensas batidas policiais contra prostitutas, desocupadas, vagabundos, mendigos, viciados em maconha; tomam-se de assalto favelas, espalhafatosamente atira-se a esmo, ferindo e matando ao acaso. Pouco importa. Sempre serão “criminosos em potencial, gente de segunda categoria, ralé”.
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Fonte: Moscatelli, L. 1982. Política da repressão: Força e poder de uma justiça de classe. RJ, Achiamé & SOCII.
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