A invenção das letras
Jô Amado
O Diário, de Vitória, era, como se dizia na época, um jornal ‘a
quente’. A composição era feita por linotipos, à base de chumbo. E os patrões
não tinham muito interesse em renovar os tipos porque, àquela época,
praticamente já só se trabalhava com a impressão em offset. A escassez de tipos transformava o fechamento de cada edição
em uma experiência absolutamente surrealista.
Em geral, éramos o Luzimar
e eu que fechávamos a edição. A redação ficava no andar de cima – uma espécie
de mezanino – e a oficina, no de baixo. As laudas das matérias eram enviadas
por uma engrenagem que funcionava como um mini-elevador. Mandávamos, normalmente,
as matérias correspondentes a uma página. Descidas as matérias, passavam-se uns
minutos e o Nilson, ou o Alemão,
berravam lá de baixo:
– Olha, corpo 48, só tem dois ‘a’ em caixa baixa e dois em caixa alta
para a capa! Corpo 36, só três ‘e’ em caixa baixa!
E nós tínhamos que
inventar títulos com os tipos disponíveis.
Fonte: Amado, J. & Moreira,
R. 2004. Palavras. SP, Edição dos
Autores.
1 Comentários:
kkkkk Eu, que não sou tão velho assim, nem cheguei nos oitenta cheguei a trabalhar com linotipos, sorte que não tinha horário pré-estabelecido, mas posso dizer que foi uma experiência ímpar.
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