15 julho 2014

O dia de eleição

Cornélio Pires

– Muita gente na cidade?
– Nem fale primo Bastião...
Mais de tuda as qualidade
tinha gente na inleição!

Fiquei meio atrapaiado:
fui votá co Coroné
que pagô o dotor formado
que curô minha muié,

quando chegô nhô Travasso,
pra quem devo treis favô,
e me pegano pro braço,
disse: “Este é meu eleito.”

Votei co’ele, que fazê?
Mais porém, nôtra inleição,
o Coroné há de vê
que eu tô no seu bataião.

De tardinha, quano eu sube
que ia havê u’a cervejada
na casa grande do crube,
fui pra lá vê a rapaziada.

Ota povo mais que terno!
Tudo era ali bem tratado...
Êta baruio do inferno!
Fiquei meio turtuviado.

A gente ganha sapato,
ganha ropa de argodão,
come frango, come pato,
quano é dia de inleição.

O tar crube é um bão cevero,
os chefe são cevadô,
é gente que tem dinhero
pra garanti o eleitô.

Pra vancê sê visitado
nos tempo das inleição,
é perciso sê alistado...
Se aliste, primo Bastião! 

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 5. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1910.

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