Questões morais
Michael Ruse
Devemos começar com a
mais básica de todas as questões. Estamos usando a evolução para podermos
compreender e talvez justificar a moralidade – a questão situada no cerne da ‘ética’.
Que é exatamente essa moralidade, foco de nosso interesse? A grosso modo
sabemos naturalmente o que ela é. A moralidade se refere a diretivas para a
vida, a obrigações. Ao que devemos e não devemos fazer. Mas, uma vez que nos
vamos estender largamente sobre o assunto, poderíamos talvez explicar mais claramente
a natureza formal da moralidade? A primeira pergunta que faço é sobre o seu
significado. Quais seriam os critérios para que uma frase possa ser
classificada como uma declaração moral? Em breve passarei a falar sobre
conteúdo e evidência. [...]
Muito tem sido escrito a
respeito de como separar o pensamento e a linguagem moral do pensamento e da
linguagem não-moral. Um bom ponto de partida é a universalidade da moralidade,
ou antes, a universalidade de toda reivindicação feita em nome da moralidade
[...]. Em uma asserção de ordem moral pretendemos num certo sentido ir além do
individual. Consideremos uma declaração tida por todo mundo, sem qualquer ambigüidade,
como moral: “Você não deve estuprar meninas pequenas”. Embora, como é o caso em
questão, eu esteja me referindo a um indivíduo em particular, o que torna moral
a declaração é que ela se apóia numa proibição universal: “É errado para você,
ou eu, ou, quem quer que seja,
estuprar meninas pequenas”.
O que está sendo dito
aqui é algo que se acha acima dos desejos do leitor, ou dos meus, ou dos de
qualquer outra pessoa. Se o leitor me dissesse (sinceramente) que desejava
estuprar uma menininha, isso não faria diferença no que se refere ao fato de que
o estupro é errado, de que eu o consideraria errado, ou (e isso é importante)
de que eu acho que o leitor deveria considerá-lo errado. Em outras palavras, a
moralidade não é só uma questão de crenças e inclinações pessoais. Trata-se se
algo que se aplica a todas as pessoas – pelo menos a todas as pessoas
responsáveis que podem ser consideradas como agentes morais. [...]
Fonte: Ruse, M. 1995. Levando Darwin a sério. BH, Itatiaia.
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