Do idiota
Henriqueta Lisboa
1.
Os olhos são da infância,
os mesmos:
lagos com reflexos de
arco-íris.
Luas crescentes de
surpresa
pelos vergeis que
iluminam.
Oásis tenros que esperam
– talvez há séculos – o instante
de serem colhidas as tâmaras
que nem os anjos
percebem.
Como a lâmpada de Aladino
contra as lufadas acesa,
os olhos guardam a
inocência
suspensa por sobre o
abismo.
2.
As mãos pousam no ombro
amigo.
Ó doce fluido magnético!
Acenos de trigal ao
zéfiro;
auras do círculo infinito
no qual em rosas a água e
o fogo,
o céu e a terra se
entrelaçam;
guirlandas contornam
mares,
névoas desprendem chuvas
de ouro.
As mãos ignoram que
profundas
garras possui a carícia.
Como pesaria uma pluma
sobre o espírito!
3.
O peito é como o dos
pássaros
procurando repouso.
Uma cruz esconde o
tesouro
de pérola, magnólia e
nácar.
Ergue-se um punhal contra
o peito:
violino sob o toque do
arco
arqueja e desfere os
jactos
um trinado mais célere.
A que imprevisíveis
mundos
poderá conduzir,
pássaro nas grades, a tua
música para víboras!
Fonte: Lisboa, H. 2001.
Melhores poemas. SP, Global. Poema publicado em livro em 1958.
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