Segismundo
Pedro Calderón de la Barca
É certo; então reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos
em um mundo tão singular
que o viver é só sonhar
e a vida ao fim nos imponha
que o homem que vive, sonha
o que é, até despertar.
Sonha o rei que é rei, e
segue
com esse engano mandando,
resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe;
vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queria reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?
Sonha o rico sua riqueza
que trabalhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo
preza,
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e
ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto ninguém
entende.
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro
estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.
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