Desterro
Moacir Werneck de Castro
A capital da província
tinha um nome pouco atraente. Chamava-se Desterro, mais precisamente, Nossa
Senhora do Desterro. Em alemão, Verbannung.
Curiosos esses nomes de cidades brasileiras, pensava o professor Fritz: parece
haver um gosto especial em encompridá-los. A capital do país é São Sebastião do
Rio de Janeiro; Salvador é uma abreviatura, ditada pela comodidade, de São
Salvador da Bahia de Todos os Santos; e Campos resume São Salvador dos Campos dos
Goitacases.
Em Desterro o sábio
alemão iria passar onze dos seus 45 anos de Brasil. E tão fecunda foi ali a sua
atividade que Ernst Haeckel, com quem se correspondia, resolveu que ele seria
chamado Fritz Müller-Desterro. Por quê? Explicava o célebre biólogo que na
Alemanha havia uma tal quantidade de Müllers cientistas que se tornava
necessário batizar aquele notável patrício expatriado com um nome diferente.
O próprio Fritz Müller
não gostou da idéia do seu confrade e amigo – embora nunca se tivessem visto – de
pespegar aquele exótico Desterro ao seu tradicional nome teuto. Mas não podia
impedir que alguns o aceitassem, como futuramente a prefeitura de
Windischholzhausen, que pôs o nome de Fritz Müller-Desterro na rua onde ele
nasceu. O sobrinho Alfred Möller, da família Trommsdorff, que o conheceu em
seus últimos anos na cidade de Blumenau, testemunhou que não lhe causava
nenhuma alegria a estreita aproximação de seu nome com Desterro.
[...]
Fonte: Castro, M. W. 1992.
O sábio e a floresta. RJ, Rocco.
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