23 abril 2015

Desterro

Moacir Werneck de Castro 

A capital da província tinha um nome pouco atraente. Chamava-se Desterro, mais precisamente, Nossa Senhora do Desterro. Em alemão, Verbannung. Curiosos esses nomes de cidades brasileiras, pensava o professor Fritz: parece haver um gosto especial em encompridá-los. A capital do país é São Sebastião do Rio de Janeiro; Salvador é uma abreviatura, ditada pela comodidade, de São Salvador da Bahia de Todos os Santos; e Campos resume São Salvador dos Campos dos Goitacases.

Em Desterro o sábio alemão iria passar onze dos seus 45 anos de Brasil. E tão fecunda foi ali a sua atividade que Ernst Haeckel, com quem se correspondia, resolveu que ele seria chamado Fritz Müller-Desterro. Por quê? Explicava o célebre biólogo que na Alemanha havia uma tal quantidade de Müllers cientistas que se tornava necessário batizar aquele notável patrício expatriado com um nome diferente.

O próprio Fritz Müller não gostou da idéia do seu confrade e amigo – embora nunca se tivessem visto – de pespegar aquele exótico Desterro ao seu tradicional nome teuto. Mas não podia impedir que alguns o aceitassem, como futuramente a prefeitura de Windischholzhausen, que pôs o nome de Fritz Müller-Desterro na rua onde ele nasceu. O sobrinho Alfred Möller, da família Trommsdorff, que o conheceu em seus últimos anos na cidade de Blumenau, testemunhou que não lhe causava nenhuma alegria a estreita aproximação de seu nome com Desterro.
[...]

Fonte: Castro, M. W. 1992. O sábio e a floresta. RJ, Rocco.

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