O mito do altruísmo
Robert A. Wallace
Jamais alguém fez qualquer
coisa por qualquer outra pessoa. [...]
Anos atrás, quando eu
estava brincando com a idéia de altruísmo (sem ter um nome para ela), abordei o
assunto em uma classe de escola dominical. O assunto estava sendo discutido de
maneira bastante vaga, com os habituais lugares comuns e gestos de concordância
que precedem o jantar de domingo. Mas alguma coisa parecia não estar muito
certa, por isso tentei definir os limites do fenômeno, levando-o a seus
extremos. Imaginei um caso em que alguém poderia decidir quem iria para o Céu: ele próprio ou uma pessoa amada.
(Como se pode ver, eu estava um pouco influenciado pela minha formação como
fundamentalista sulino.) A pessoa não escolhida arderia eternamente no Inferno.
Agora, para que ninguém pudesse colher recompensas ocultas, como os benefícios
de aprovação ou os sentimentos de martírio, havia armadilhas. Uma vez tomada a
decisão, a pessoa escolhida aparecia repentinamente no Céu, sem a menor
lembrança de qualquer decisão, e a outra iria para o Inferno, absolutamente sem
a menor idéia de como fora parar lá. De fato, uma vez tomada a decisão, a memória
de todas as partes seria totalmente obliterada. Ninguém seria capaz de lembrar
a existência de qualquer outra pessoa. Ademais, Deus de nada se lembraria a respeito. O prêmio e o castigo seriam
definitivos. Não haveria remorso, nem consolos.
Perguntei, retoricamente,
quantas pessoas seriam altruístas em tais condições e tenho de admitir que me
causaram alguma surpresa a força e veemência das respostas lançadas em rancoroso
coro. Uma pequena informação que pude tirar de tudo aquilo foi que, se
decidisse ir para o Inferno dentro de uma proposição fantástica como aquela, um
indivíduo desejaria o consolo de saber que a pessoa amada estava no Céu,
lembrando que era querida por ele. A questão toda era mórbida demais para
merecer algo além de passageira consideração por parte de qualquer um, mas eu
achei que aprendi alguma coisa fazendo a pergunta. Primeiro, pessoas se tornam
reflexamente irracionais na defesa de suas vacas sagradas; mas, ainda mais
importante, fiquei sabendo (pelas poucas respostas racionais apresentadas) que
altruísmo tem limites e graus. Comecei também a suspeitar que, quando alguma
coisa dói, a pessoa deseja que doa em seu melhor interesse.
[...]
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