Musa impassível
Francisca Júlia
Musa! um gesto sequer de
dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o
cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva
o mesmo orgulho, e diante
De um morto, o mesmo
olhar e sobrecenho austero.
Em teus olhos não quero a
lágrima; não quero
Em tua boca o suave e
idílico descante.
Celebra ora um fantasma
anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um
guerreiro de Homero.
Dá-me o hemistíquio
d’ouro, a imagem atrativa;
A rima cujo som, de uma
harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d’alma;
a estrofe limpa e viva;
Versos que lembrem, com
seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um
calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de
mármores partidos.
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